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quarta-feira, 17 de março de 2021

CAPÍTULO 5 – A FEIRA

 


A primeira remessa de pão já se mostrava atraente na bodega do seu Raimundo. O sol já despontava desinibido na ilusória manhã fria daquela pequena cidade. Os feirantes finalizavam os últimos detalhes para receber a clientela e quando todos pensavam que aquela manhã seria mais uma de tantas daquela fatídica cidadezinha, surge Zequinha com sua carroça despertando olhares e curiosidade dos que ali estavam presentes. De longe o trio de fofoqueiras cochichavam entre si, debulhando especulações sobre a cena que destrinchava diante dos seus olhos. Os feirantes entortavam a cara, afim de deixar claro a insatisfação de ver mais um vendedor na disputa da clientela. E os que timidamente se aproximavam da feira, logo tentava descobrir o que de fato Zequinha traria dentro da carroça.

Com o olhar destemido e um sorriso radiante, a auto estima de Zequinha só aumentava ainda mais a curiosidade dos presentes. Já dava pra se imaginar as mil e uma perguntas que cada um faziam naquele momento, principalmente se tratando de alguém que, aparentemente, não teria nenhum motivo financeiro para estar ali. Naquela ocasião, a cidade já dava por certo que Zequinha herdaria tudo de seu pai, mas o que de fato ele estaria fazendo naquele lugar? Era a principal pergunta, que ao longo dos dias continuaria sem resposta.

Acontece, que nem todo mundo de Pitombas tem tempo para ficar curiando a vida alheia. Por este motivo, Toinho deixou passar despercebido aquela curiosa cena. Focado no seu trabalho e disposto a deixar tudo em ordem para iniciar as atividades do dia, Toinho só tinha olhos para as frutas e legumes de sua venda. No entanto, a sua atenção rapidamente muda quando ver Zequinha se aproximar de sua barraca, deixando claro que seria justamente ao seu lado onde ele pretenderia ficar. Toinho passou a observar o jeito desengonçado e destemido de Zequinha, deixando escapulir vez por outra um sorriso no canto da boca. Aquele jeito meio destrambelhado tentando organizar a barraca, logo fez Toinho sair de sua barraca para de um jeito ou de outro ajuda-lo. Quando quase o baú despenca da carroça, Toinho chega para interrompeu o desastre.
_ Tá precisando de ajuda? – Brinca Toinho, fazendo Zequinha fingir surpresa.
_ Está tudo sob controle, ou você acha que eu não sei o que estou fazendo? Justifica Zequinha, mesmo sabendo que Toinho não acreditaria em nenhuma palavra naquele momento.

A tarefa mais difícil seria, naturalmente armar a barraca. O que, com ajuda de Toinho, não demoraria muito. Mesmo sem demostrar muito interesse, Toinho olha para o baú despertando uma leve curiosidade, observada rapidamente por Zequinha que logo o indaga.
_Curioso pra saber o que vou vender?
_Vindo de você, qualquer um aqui está curioso, já que o que não falta na sua casa é dinheiro – completa Tinho. Com o questionamento, Zequinha se mostra compreensivo diante a curiosidade. Enquanto sua misteriosa barraca é erguida no meio da feira, os dois vão conversando sobre os reais motivos que fizeram o jovem rapaz acordar cedo e por esta ideia em prática.  Quando tudo já se mostrará finalizado, Zequinha então posiciona o baú pertinho do lugar onde iria exibir seus produtos. Ao seu redor muitos se aproximavam afim de matar a curiosidade. Até que Zequinha revela o misterioso segredo.

 Zequinha permanecia confiante, e sem pensar duas vezes, ao mesmo tempo em que colocava cada produto no seu devido lugar, de forma eloquente, o jovem rapaz anuncia os extraordinários produtos na cidade. Os olhares eram de extrema surpresa, haja vista que aquela pequena cidade nunca se quer ouviram e presenciaram tamanha ousadia em plena manhã de segunda feira. Ainda que desconfiado, um senhor se aproxima da barraca de Tião, com único pretexto de ver de perto as novidades trazidas por Zequinha. Mantendo-se o mais discreto possível, aquele senhor ensaiava passos que pouco a pouco se aproximavam de Zequinha. A discrição não surtia tanto efeito, haja vista que naquele momento, todos os olharem estavam voltados para aquela curiosa barraca. Qualquer movimento ou aproximação era nitidamente registrado por olhares curiosos dos presentes. Já de frente com Zequinha, o discretíssimo senhor pergunta:

__Que mago de tanto produto é este? – Era o suficiente para que Zequinha exibisse tudo que alí estava, por mais que nem mesmo ele saberia a eficácia de cada produto, principalmente se tratando que teve uma rápida aula dada pelas meninas do bordel. De forma descontraída, Zequinha conquistava aos poucos a confiança dos que rodeavam encabulados sua barraca. Não demorou muito para que ele se tornasse o maior destaque daquela manhã. Atraindo olhares e arrancado risos de quem ainda timidamente teriam dúvidas a serem tiradas.

 O dia se estendeu, porém, antes mesmo que o sol anunciasse o fim do expediente, Zequinha havia esgotado todo o estoque daquela segunda feira, resplandecendo felicidade e dever cumprido. E alimentando sua vontade de estar no dia seguinte para mais um desafio que se estenderia por vários dias. Assim aconteceu.

Atendo às falácias mal intencionada das fofoqueiras de plantão. Zequinha, manteve-se cauteloso e de forma extremamente discreta, explicitava o mínimo possível os reais benefícios de seus produtos. Acontece que os verdadeiros interessados, sabiam do que se tratavam, e ao se aproximar, logo se animavam, pois ali encontravam uma forma mais discreta de adquirir as iguarias, sem despertar curiosidade dos demais e sem precisar entrar no bordel, ariscando a reputação. Desta forma, os homens da região que tinham certa dificuldade de comparecer na cama, encontravam a melhor forma de resolver os seus problemas, na compra de ervas medicinais travestidos de chá. A estratégia era boa, haja vista que tal assunto não era compartilhado entre as mulheres. Assim, enquanto os homens despertavam interesses pelas iguarias, as mulheres se deliciam com a culinária de Zequinha. Agradando a todos que ali se aproximavam, inclusive Tião.


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